Além de frases e dicas literárias publicadas na página do Facebook, somos apaixonados e apaixonadas pela escrita com idades, trajetórias e expectativas diferentes que, separadamente, registramos nossos devaneios. Se quiser fazer parte, envie para nós seu texto (oficinacompartilhada@gmail.com)! Os que forem escolhidos pelo grupo serão divulgados aqui na Oficina Compartilhada.

Aproveite o espaço SEM moderação!

Bem-vindos e Bem-vindas!! Saravá!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

The End

Doeu.

O corpo continuou com suas dimensões e dores das repetências. Quem sofreu foi a alma. Aprisionada em um corpo conformado, não pode nem derramar uma lágrima ou curvar a coluna. Há quem fale que a chuva de ontem era o céu chorando. Os mais espiritualistas diriam que era a aprovação dos deuses de Moçambique: está certo, minha filha, ainda há o reto, a retidão do caráter se cria no fluxo das águas... "água mole em pedra dura tanto bate até que fura".

Mas a alminha, ali silenciada por todos os diálogos internos, estrangulada pela postura altiva e cega pela distância, não se fez de rogada. Atacou nas horas mais sombrias, onde todos os pecados são permitidos: nos sonhos. E sonhou por cinco horas uma saga num dia cinza. 

Chorou todo o surreal da realidade - como negar o alimento da alma? 
Simulou borboletas na barriga com uma roda gigante - sensação tão típica dos encontros apaixonados.
Recebeu o apoio da torcida inimiga - o ego contra-ataca!
Até que, sabendo do despertar do pesadelo, levou a relidade ao suicídio. O fatídico encontro ocorre no alto de um prédio e termina com beijos de próximo capítulo, não fosse o fim da novela.

Como qualquer pesadelo, levanta-se às cinco da manhã no susto e sente, finalmente, a dor de existir.

sábado, 3 de novembro de 2012

Suspiro

Enrolei a última respiração
para em doce suspiro
contar a minha frustração

Vivo em uma cidade de 6 milhões de habitantes e uma concentração de renda na zona central e sul. Frequento bares e festas que as mesmas pessoas vão, se reconhecem e não se cumprimentam

Fofocas se fabricam in loco pelo neoliberalismo atuante cotidiano - um ponto a menos para o conservadorismo, um ponto a mais para a falta de ética.

Beber se tornou uma necessidade e não mais uma fuga porque fugir é trabalhar, é congelar seus sonhos justos em um sistema de demandas urgentes fúteis.

Olhar nos olhos é cada vez mais uma obrigação. Precisão de caráter mesmo quando se está a atravessar uma rua... coisas que só o senso comum obriga.

Dignidade é viver na rua, sem se dobrar à insensatez do cotidiano.

Cotidiano é acordar para tomar banho, ficar limpo para ir à rua, ir à rua para trabalhar, trabalhar para pagar a bebida e beber para dormir.

Engoli a última frase
em condolência mortífera
à dérnière catarse.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Reticente

A saudade já foi mais curtida. Uma ausência prolongada pela demora dos meios físicos de comunicação. Tudo tão rápido, ao toque de um dedo, send, e já se cumpre com a tarefa de "fiz a minha parte". Já não há mais espera, elaborações pueris de como seria. Pegamos todo o restolho de nossa angústia e ansiosamente fechamos o capítulo com um ponto final. Saudades das reticências...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Suor

Suor é o que fica depois que a alma descola do gosto amargo da saudade...


La Muse | Picasso

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Rio: cimento coberto com água do mar

Tarde lluviosa de gris cansado... Levanto o meu olhar. 

O mar de cimento se liqüefaz na fina linha do horizonte, em fumaça fina, embaçando o cotidiano com a morosidade do corpo que saiu da cama e deixou a alma em paz. Não fossem as gaivotas cruzando o cinza em círculos infinitos, sentiria que o mundo passava no mesmo tom, aglutinando dia e noite na tarde de passagem. Um intermédio entre eu e amanhã.
Faz tempo que o Rio não se deixa entreabrir, está sempre lá, escancarado, iluminado. E agora, ofendido, se recolhe em contínuo humor, um longo bocejo de quem cansou de se esforçar por debochar - só para figurar os dentes brancos e as covas que esconde na borda da boca.

É difícil suportar por muito tempo o trânsito incessante de anacronismos embaixo de um sol que brilha para todos. 
Magoou o céu o deboche do perdão. Magoou o céu a piada da loura, da gorda, do negão. 
Fere o sol as fronteiras das favelas e a alienação na drogadição.

Hoje o Rio não ri. Os olhos vão baixinho sussurrando o esforço de se manter maravilhoso nas duas últimas semanas. O horizonte se perde entre mar e nuvens. Um banho de água fria nos carros e nas suas lógicas e uma umidade calorosa nos transportes coletivos. Mas tudo isso quase calado, arredio em fazer de novo o que já vinha fazendo. Foi uma lufada de consciência na corrida do próprio rabo. Levanto o meu olhar e suspiro para dentro: tarde lluviosa de gris cansado, y sigo el caminar...




quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Amarga Vida Doce


Cruel, dura, injusta
Rápida, dolorida, indecente
Amarguinha adoça devagar
E adoçando, o amargo sente
Mas se doce puramente fosse
Nenhum de nós ficaria contente

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Da regra 3

E lá se foi a carola nos seus devaneios: no terceiro pai-nosso pedia pelos mortos, para logo depois de haver lembrar os familiares e tentar amar os desafetos. Chamava a deus com um suspiro de cansaço, quase que pedindo arrêgo, mas o sussurro foi aos poucos reforçado pela angústia dessa terça-feira em que soube que o além de seu colega de escola foi escolhido por ele: suicídio. E numa hipocrisia danada se perguntava como alguém pecava contra a própria vida, quando ela mesma pedia absolvição para todos os pecados, agora e na hora de nossa morte amém. Mas não se fez de rogada, praguejou a quarta em uma "Ave-Mariiiia!" apertando tanto o terço que estourou a lágrima de cristo.

Estampido de desrazão.

Sai correndo pela igreja, esbarra no pai, empurra o filho, até derrubar o espírito santo no sétimo galo do altar. Travou-se uma batalha com as suas trevas e por três vezes refez o caminho da trindade repetindo arfando espumando paifilhoespíritosanto. Trincava os dentes citando seus três maiores pecados: ORGULHO-GULA-AVAREZA por trinta vezes até resumí-los em ORGULAREZA! quando caiu no chão trimilicando o corpo todo.

Há salvação.

A Mãe Preta desceu da sua vitrine e, gentilmente, pressionou as têmporas muxoxando as dúvidas certas desse encontro de terça-feira. Puxou a folhinha do Sagrado Coração, pressionando contra a razão da moça e entoou o canto:

Três pratos de trigo para três tigres triiiiiiiiiistes. Aaaaah-mém.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O urso

J'ai sauvé la peau d'un petit ours
Et puis son coeur, je ne l'ai pas volé...

Fim de tarde do começo do inverno, tempo frio devagar, lembram a condição de urso da própria mente. Hibernar para se livrar de toda adição adiposa de camadas e camadas de pele, máscaras e paranóias sobre o corpo cansado. Não são aconselháveis os livros, nem os filmes. Toda arte é prenúncio apocalíptico. Aconselha-se trabalho mecânico mental. Do tipo corte de lógicas obsoletas, aperto de parafusos soltos e desarmamento de pensamentos-gatilho. Com direito à pausa para o chá das 17h, esquentando o peito ansioso e ocupando a boca nervosa. Ora se desfaz das responsabilidades, ora se responsabiliza: e nessas oscilações pendulares de cronopinhos úmidos que se aconselha a hibernação.


Mas ó, o diagnóstico é oculto... não há medicina conclusiva.





quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pé de feijão


Semeei feijão no algodão úmido,
que se entreabriu num corpo verde e fino,
e braços que se estenderam a pedir carinho.
Todavia, não chovi sobre sua fina e verde
necessidade de cuidado,
e seco de minha gratidão, ele se foi.
Desde então não tive coragem
de olhar um feijão desabrochado.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Início do fim ou meio?

Não sabia mais por onde começar quando tentava verbalizar sobre o início do fim. Já havia desabafado tantas vezes que a história começava a embaralhar na cabeça, tamanha a confusão que vivia. Era muita providência a ser tomada para pouca atitude do outro lado. Queria escrever para clarear as ideias, todavia, teve preguiça. Não queria pensar mais nisso por enquanto. Preferiu cuidar de si sem drama. Já havia vivido o maior drama de sua vida há poucos anos atrás. Essa seria apenas mais uma experiência que a deixaria mais forte e escaldada. “Essa é a vida real”, pensou. Azar de quem não alcançasse. 

Fonte

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Testando 1..2


"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"


O livro dá solidão

Capítulo 1 - Capitólio

Acorda. 
Sente a solidão.
Ela está no teto, no móvel que nem você mesmo lembra para quê serve. 
Sente a coberta. 
Vá tateando cada dobradura para entender que está assim porque você nela dormiu a noite toda, relembre o porquê você está aqui, o dia da semana.
E o que aconteceu mesmo? Ah, vivi mais um sonho.
E aí? Estava tudo escuro. 
Você nunca começou seus sonhos com temporalidade. Sim. 
Não há algo de errado nisso? Por quê haveria? 
Se os sonhos são tão irreais, porque você não os conta como se fossem fábulas. Do estilo "Era uma vez..."?

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A cor de seus olhos


Fulgurante luz, teu cabelo louro,
e olhos, espelho d’água cristalino.
Bela face resplandece como ouro.
Visada perigosa de felino.

Afrodite à luz do plenilúnio
maldiz a aurora que te alumia o rosto.
Ralha, ao céu, espumas de desgosto,
Desgraça a Zeus por todo o infortúnio.

Trabalho de preciso e fino talho:
cândida, reluzente como orvalho,
é uma flor que desabrocha altivez.

A beleza, ó fardo que te abusa!
 Defeito, os olhares de medusa:
petrifica quem te visa uma vez.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Do mistério da poética


O vociferar sereno de um Nume,
desprovido, apenas, de agonia,
faz convergir as palavras ao lume:
repentinamente ruge harmonia.

Num dialogar sincero de deidades
principia sem pressa a inspiração,
sem data certa, momento, idades...
O silêncio do ar carrega a criação.

Do balbuciar dos anjos: a permuta;
da carpintaria do verbo: a escuta;
do redemoinho ou furacão é o olho.

Inapreensível mistério divino,
que é ceifa de Deus, homem, e menino,
pois substância da poesia é o restolho.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Short Message Service

http://www.eartfair.com/lee/whiteheart.html




Príncipe do Audiovisual: Kd vc? Foi embora?

[silêncio]

Príncipe do Audiovisual: Esta sua amiga, heim? Caído...

[6 horas depois...]

Miss Colibri: A Libélula Esvoaçante atacou novamente?

[silêncio]

Miss Colibri:  O que aconteceu? Estou preocupada...

Príncipe do Audiovisual: Ah, nada de mais... Ou pelo menos algo que não pode ser demais. A sua amiga lôra se atracou BIZARRAMENTE com um maluco na pista.

Miss Colibri: Vixe... Sério?

Príncipe do Audiovisual: Quando mandei o sms tava meio bêbado, meio chateado, foi mal. Mas é isso aí, nada de mais, esse é um país livre, todo mundo pode fazer o que quiser. Ela não tem nada comigo, eu não tenho nada com ela. É a vida.

Miss Colibri: Normal ficar chateado... Mas é isso aí... Ainda mais essa galera.... Mas ela provavelmente estava bêbada e vai acordar com ressaquinha moral. Conheço bem...

Príncipe do Audiovisual: Tô mal não, só lamentação mesmo. Cinema, realmente, só não é pior que teatro, todo mundo é de todo mundo. Mas eu sou exceção, certinho, praticamente um príncipe do audiovisual.

Miss Colibri:  Td bem, ela fez a escolha dela, né? Mas ela te tratou mal? :/

Príncipe do Audiovisual:  Ela não me maltratou não, tratou foi bem demais o sujeito. Pensando bem, maltratou o meu coraçãozinho. Isso não se faz. :p

Miss Colibri: Vc é um fofo <3 Vamos tomar um chope?

Príncipe do Audiovisual:  Já é. Te encontro em 15 na praça.

Miss Colibri: Bjo!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Tédio


Um estranho sentimento me atinge,
carece de fim, início, e meio.
Por não saber revelar esta esfinge,
vou dizer que do vazio estou cheio.

Ardor ausente que não alivia,
e carrega a alma, ausente de cor.
Vá rouxinol, pergunte a cotovia,
por que levou consigo todo humor.

 Ah, estranho sentimento inefável,
corre imóvel: tempo nu – indomável.
“Qualquer coisa que se pensa é inútil!”

Desesperado, impotente vejo,
que nesta hora o que eu apenas desejo
é perfurar este tédio inconsútil.

domingo, 10 de junho de 2012

Desengaños



Acordou com dores no corpo. 
Tensão. 
Expectativas frustradas trazem desencanto com a vida. 
Sofrimento e confusão. 
É possível ser feliz sim, mas todos devem ter histórias tristes para refletir e compartilhar. As dificuldades criam caráter. Sua infância foi extremamente alegre. Rica de experiências. Aproveitou tudo o que a Natureza tinha para oferecer e ganhou muito carinho. Claro que apanhou também. Todos na sua casa tinham sido surrados, exceto o caçula, que ainda assim achava que não recebeu a devida atenção... Nem por isso guardaram rancor. Hoje em dia dramatizam tanto a educação dos pais que tudo pode virar trauma. Agora se via diante de mais um desafio. Mas iria enfrentá-lo de cabeça erguida. Sem rodeios. Sem fazer tipo. Mas no seu tempo. 
♫ Yes I need more time just to make things right. ♫

sábado, 2 de junho de 2012

O dedão



http://fineartamerica.com/featured/say-hi-to-foot-elle-marcus.html


Já meio embriagada virava para cima e para baixo a carta do estrangeiro. De tanto carregar o pedaço de papel para todo canto o mesmo já começava a romper-se no meio. Resolveu inspirar fundo, relaxar o maxilar e fitar o corpo novamente, com a carta por cima do líquido inebriante.
A carta ainda estava lá. O amor ainda estava lá. Só quem não estava lá era ele. Havia virado o patuá de cabeça para baixo e em seguida ficou tão pensativa que coçou a orelha esquerda, enquanto o pé do mesmo lado repuxava num pouco de câimbra na sola.
A esta altura os movimentos involuntários estavam quase que incontroláveis e a rapariga coçava um pouco o cabelo, o rosto, tocava o anel do polegar direito e sorria para o nada. A circulação dava sinal de problema e ela mexia o dedão sorrindo para o pé pressionado pelo seu corpo cansado.
As coxas firmes tinham marcas arroxeadas. Era muito desastrada. Saiu da posição em que estava. Tirou o foco de si mesma. Do lado de fora os bichos cantavam e ela não se sentia mais encurralada. Era o dia que chegava e assim o medo ia embora.
Sentia-se quase livre. “Nos dias de hoje, o quase é pleno.”, pensava. “Foda-se a gramática!” Sentiu um cheiro estranho e cansou-se de ter o olfato apurado. Estalou o maxilar e esfregou a sobrancelha esquerda. O ombro direito foi o seguinte. E coçou a da direita arrumando e alisando o nariz quase que ao mesmo tempo.
Olhou suas mãos. Os cantos dos dedos doíam do insistir manual, mas a cabeça estava feliz, porque era tempo de festa. Ela não queria saber de lamúrias, pois as borboletas vivem pouco e morrem livres porque dão valor ao tempo. Olhava o dedão novamente. E a câimbra corria até a batata da perna.
Tudo culpa do dedão.