Além de frases e dicas literárias publicadas na página do Facebook, somos apaixonados e apaixonadas pela escrita com idades, trajetórias e expectativas diferentes que, separadamente, registramos nossos devaneios. Se quiser fazer parte, envie para nós seu texto (oficinacompartilhada@gmail.com)! Os que forem escolhidos pelo grupo serão divulgados aqui na Oficina Compartilhada.

Aproveite o espaço SEM moderação!

Bem-vindos e Bem-vindas!! Saravá!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Testando 1..2


"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"


O livro dá solidão

Capítulo 1 - Capitólio

Acorda. 
Sente a solidão.
Ela está no teto, no móvel que nem você mesmo lembra para quê serve. 
Sente a coberta. 
Vá tateando cada dobradura para entender que está assim porque você nela dormiu a noite toda, relembre o porquê você está aqui, o dia da semana.
E o que aconteceu mesmo? Ah, vivi mais um sonho.
E aí? Estava tudo escuro. 
Você nunca começou seus sonhos com temporalidade. Sim. 
Não há algo de errado nisso? Por quê haveria? 
Se os sonhos são tão irreais, porque você não os conta como se fossem fábulas. Do estilo "Era uma vez..."?

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A cor de seus olhos


Fulgurante luz, teu cabelo louro,
e olhos, espelho d’água cristalino.
Bela face resplandece como ouro.
Visada perigosa de felino.

Afrodite à luz do plenilúnio
maldiz a aurora que te alumia o rosto.
Ralha, ao céu, espumas de desgosto,
Desgraça a Zeus por todo o infortúnio.

Trabalho de preciso e fino talho:
cândida, reluzente como orvalho,
é uma flor que desabrocha altivez.

A beleza, ó fardo que te abusa!
 Defeito, os olhares de medusa:
petrifica quem te visa uma vez.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Do mistério da poética


O vociferar sereno de um Nume,
desprovido, apenas, de agonia,
faz convergir as palavras ao lume:
repentinamente ruge harmonia.

Num dialogar sincero de deidades
principia sem pressa a inspiração,
sem data certa, momento, idades...
O silêncio do ar carrega a criação.

Do balbuciar dos anjos: a permuta;
da carpintaria do verbo: a escuta;
do redemoinho ou furacão é o olho.

Inapreensível mistério divino,
que é ceifa de Deus, homem, e menino,
pois substância da poesia é o restolho.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Short Message Service

http://www.eartfair.com/lee/whiteheart.html




Príncipe do Audiovisual: Kd vc? Foi embora?

[silêncio]

Príncipe do Audiovisual: Esta sua amiga, heim? Caído...

[6 horas depois...]

Miss Colibri: A Libélula Esvoaçante atacou novamente?

[silêncio]

Miss Colibri:  O que aconteceu? Estou preocupada...

Príncipe do Audiovisual: Ah, nada de mais... Ou pelo menos algo que não pode ser demais. A sua amiga lôra se atracou BIZARRAMENTE com um maluco na pista.

Miss Colibri: Vixe... Sério?

Príncipe do Audiovisual: Quando mandei o sms tava meio bêbado, meio chateado, foi mal. Mas é isso aí, nada de mais, esse é um país livre, todo mundo pode fazer o que quiser. Ela não tem nada comigo, eu não tenho nada com ela. É a vida.

Miss Colibri: Normal ficar chateado... Mas é isso aí... Ainda mais essa galera.... Mas ela provavelmente estava bêbada e vai acordar com ressaquinha moral. Conheço bem...

Príncipe do Audiovisual: Tô mal não, só lamentação mesmo. Cinema, realmente, só não é pior que teatro, todo mundo é de todo mundo. Mas eu sou exceção, certinho, praticamente um príncipe do audiovisual.

Miss Colibri:  Td bem, ela fez a escolha dela, né? Mas ela te tratou mal? :/

Príncipe do Audiovisual:  Ela não me maltratou não, tratou foi bem demais o sujeito. Pensando bem, maltratou o meu coraçãozinho. Isso não se faz. :p

Miss Colibri: Vc é um fofo <3 Vamos tomar um chope?

Príncipe do Audiovisual:  Já é. Te encontro em 15 na praça.

Miss Colibri: Bjo!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Tédio


Um estranho sentimento me atinge,
carece de fim, início, e meio.
Por não saber revelar esta esfinge,
vou dizer que do vazio estou cheio.

Ardor ausente que não alivia,
e carrega a alma, ausente de cor.
Vá rouxinol, pergunte a cotovia,
por que levou consigo todo humor.

 Ah, estranho sentimento inefável,
corre imóvel: tempo nu – indomável.
“Qualquer coisa que se pensa é inútil!”

Desesperado, impotente vejo,
que nesta hora o que eu apenas desejo
é perfurar este tédio inconsútil.

domingo, 10 de junho de 2012

Desengaños



Acordou com dores no corpo. 
Tensão. 
Expectativas frustradas trazem desencanto com a vida. 
Sofrimento e confusão. 
É possível ser feliz sim, mas todos devem ter histórias tristes para refletir e compartilhar. As dificuldades criam caráter. Sua infância foi extremamente alegre. Rica de experiências. Aproveitou tudo o que a Natureza tinha para oferecer e ganhou muito carinho. Claro que apanhou também. Todos na sua casa tinham sido surrados, exceto o caçula, que ainda assim achava que não recebeu a devida atenção... Nem por isso guardaram rancor. Hoje em dia dramatizam tanto a educação dos pais que tudo pode virar trauma. Agora se via diante de mais um desafio. Mas iria enfrentá-lo de cabeça erguida. Sem rodeios. Sem fazer tipo. Mas no seu tempo. 
♫ Yes I need more time just to make things right. ♫

sábado, 2 de junho de 2012

O dedão



http://fineartamerica.com/featured/say-hi-to-foot-elle-marcus.html


Já meio embriagada virava para cima e para baixo a carta do estrangeiro. De tanto carregar o pedaço de papel para todo canto o mesmo já começava a romper-se no meio. Resolveu inspirar fundo, relaxar o maxilar e fitar o corpo novamente, com a carta por cima do líquido inebriante.
A carta ainda estava lá. O amor ainda estava lá. Só quem não estava lá era ele. Havia virado o patuá de cabeça para baixo e em seguida ficou tão pensativa que coçou a orelha esquerda, enquanto o pé do mesmo lado repuxava num pouco de câimbra na sola.
A esta altura os movimentos involuntários estavam quase que incontroláveis e a rapariga coçava um pouco o cabelo, o rosto, tocava o anel do polegar direito e sorria para o nada. A circulação dava sinal de problema e ela mexia o dedão sorrindo para o pé pressionado pelo seu corpo cansado.
As coxas firmes tinham marcas arroxeadas. Era muito desastrada. Saiu da posição em que estava. Tirou o foco de si mesma. Do lado de fora os bichos cantavam e ela não se sentia mais encurralada. Era o dia que chegava e assim o medo ia embora.
Sentia-se quase livre. “Nos dias de hoje, o quase é pleno.”, pensava. “Foda-se a gramática!” Sentiu um cheiro estranho e cansou-se de ter o olfato apurado. Estalou o maxilar e esfregou a sobrancelha esquerda. O ombro direito foi o seguinte. E coçou a da direita arrumando e alisando o nariz quase que ao mesmo tempo.
Olhou suas mãos. Os cantos dos dedos doíam do insistir manual, mas a cabeça estava feliz, porque era tempo de festa. Ela não queria saber de lamúrias, pois as borboletas vivem pouco e morrem livres porque dão valor ao tempo. Olhava o dedão novamente. E a câimbra corria até a batata da perna.
Tudo culpa do dedão.