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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

The End

Doeu.

O corpo continuou com suas dimensões e dores das repetências. Quem sofreu foi a alma. Aprisionada em um corpo conformado, não pode nem derramar uma lágrima ou curvar a coluna. Há quem fale que a chuva de ontem era o céu chorando. Os mais espiritualistas diriam que era a aprovação dos deuses de Moçambique: está certo, minha filha, ainda há o reto, a retidão do caráter se cria no fluxo das águas... "água mole em pedra dura tanto bate até que fura".

Mas a alminha, ali silenciada por todos os diálogos internos, estrangulada pela postura altiva e cega pela distância, não se fez de rogada. Atacou nas horas mais sombrias, onde todos os pecados são permitidos: nos sonhos. E sonhou por cinco horas uma saga num dia cinza. 

Chorou todo o surreal da realidade - como negar o alimento da alma? 
Simulou borboletas na barriga com uma roda gigante - sensação tão típica dos encontros apaixonados.
Recebeu o apoio da torcida inimiga - o ego contra-ataca!
Até que, sabendo do despertar do pesadelo, levou a relidade ao suicídio. O fatídico encontro ocorre no alto de um prédio e termina com beijos de próximo capítulo, não fosse o fim da novela.

Como qualquer pesadelo, levanta-se às cinco da manhã no susto e sente, finalmente, a dor de existir.

sábado, 3 de novembro de 2012

Suspiro

Enrolei a última respiração
para em doce suspiro
contar a minha frustração

Vivo em uma cidade de 6 milhões de habitantes e uma concentração de renda na zona central e sul. Frequento bares e festas que as mesmas pessoas vão, se reconhecem e não se cumprimentam

Fofocas se fabricam in loco pelo neoliberalismo atuante cotidiano - um ponto a menos para o conservadorismo, um ponto a mais para a falta de ética.

Beber se tornou uma necessidade e não mais uma fuga porque fugir é trabalhar, é congelar seus sonhos justos em um sistema de demandas urgentes fúteis.

Olhar nos olhos é cada vez mais uma obrigação. Precisão de caráter mesmo quando se está a atravessar uma rua... coisas que só o senso comum obriga.

Dignidade é viver na rua, sem se dobrar à insensatez do cotidiano.

Cotidiano é acordar para tomar banho, ficar limpo para ir à rua, ir à rua para trabalhar, trabalhar para pagar a bebida e beber para dormir.

Engoli a última frase
em condolência mortífera
à dérnière catarse.