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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

No Blow

Raramente nossa mente acompanha nosso estado (físico, de espírito, de produção). É nesse descompasso, vazio deixado pelo fio condutor do cotidiano, que vêm encontrar aconchego a culpa, o martírio, o julgamento, a falta de bom senso. E coloca senso nisso, porque o outro sente enquanto tentamos deslocar o nosso nada. 

Hoje é daqueles raros dias em que é possível nadar em semancol. Quando o silêncio vem antes das palavras, quando a chuva é um fenômeno da natureza e o único obstáculo dos seus planos são eles mesmos. Podemos encurtar e economizar palavras dizendo que, no nublado dia de hoje, minha mente nublou. E de alguma forma me sinto também fenômeno dessa massa louca chamada vida, e o nada está como gostaria de estar. No blow.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Amizade Dietética

Querido quase amigo: tu és um chato. De galochas. E com essa afirmação terminei uma amizade que nunca bem começou. Pra falar a verdade nunca acreditei em amizade entre ex-amantes. Ouvi de um professor que isso tem outro nome, e chama-se infidelidade emocional. “I call this emotional infidelity!”, gritava o sensato senhor com os punhos cerrados.

É meio por aí mesmo. E introduziu a afirmativa veemente perguntando em tom de resposta: “Você fez amor com essa pessoa! Dormiram e acordaram nus lado a lado e talvez tenham feito planos de vida eterna! Como é que agora vocês vão ser amigos!?”. Nessa insistência acabamos nos machucando ou enchendo o saco mesmo, porque a intimidade prévia abre prerrogativa pra a ex-figura se intrometer na sua vida sem limites.

Realmente, pra mim não dá.

O meu caso até que é diferente. A paixonite não evoluiu justamente porque o cara é um mala sem alça, e tempos depois foi tentada a tal da amizade falida. Olha, fica até parecendo pretensão minha e tenho a impressão que você pode pensar que me acho super legal. Não é bem isso. Eu apenas me considero uma não-chata. O sujeito é mesmo chato pra xuxu e quanto mais tenta parecer descolado, mais enjoado fica.

Cheio de cuidados pra não extrapolar, termina sempre extrapolando. Do tipo que escreve o que pensa e depois apaga pra não dar bobeira. Não assume nem que pode errar. Vaidoso como todo chato que se preza, não suporta ouvir crítica, nem disfarçada de piada. Tá sempre na nova onda alimentícia. Já foi vegetariano, vegan, raw vegan, macrobiótico, lactovegetariano, frugivorista, freegan e a lista não pára.

Competitivo ao extremo, entra em qualquer debate cheio de convicções. E por ser muito inteligente e talentoso acaba estourando o saco de qualquer cristão. Quando o romance havia começado ouvi de algumas pessoas que ele era um desmancha bolinhos e foi até apelidado de brócolis por um conhecido, mas ele está mais pra xuxu mesmo. Pois bem, hoje em dia não aguento xuxu nem com camarão.

Quem não está preparado pra ver a beleza diversa que o ser humano tem com seus erros e limitações não merece entrar na minha dieta.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Amizade Perfumada



Flor mais linda com perfume de calma
Entra quieta, faz respirar
Aquieta a alma




Me faz entender pensamentos confusos
Abraça o desejo secreto
E me dá segurança de colo de mãe


Essa coisa que invade e não perde a força
É água tempestade
Vento uivante
E som que faz o coração amolecer de saudade


Quero força
Quero ternura
Quero sono para poder seguir
O descanso me ajuda, ampara e faz sentir
Preciso da calmaria, da tranquilidade
Já sou terremoto suficiente e preciso dormir

Declaração de Desamor

Te ofereci para vir
Se vens
Se te convéns
Repetir a falsidade do enlace
do corpo a corpo
des amours
Nos vai-e-véns
dos corpos
nus
- nous?

Sem platão
Sem ideal
Sem fantasia

Dedos entrelaçados
Mania

Olho no olho
fuja, vadia!

Perder-se no outro é mais caro que perder-se-em-si
Se me permite a aliteração
Desmedida
Medida do vão-
vai-vem-

Não.

Não é isso.

E o que é então?

Fantasias falsas
de nós apertados
nos íamos

Não fomos.

Ia!
Vá!
Daí não posso dar.

Gozo na rima de voltar.

Consegues minha entonação?

En ton action?

Perdi a repetência...
Oferta fugidia.
Vá, 
dia que vem
sem falsa permissão.
Laço do não

Para tão
ideal de fantasia
mania de corpos
nus
Nous en ton action.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Duas décimas de amor


A Juliana Vaz F. Kawashima.

Olhos fixos em teus cabelos soltos;
Brincadeira da vida? De repente...
Vira-mundo mais forte que a gente.
E estava meu espírito envolto.
Maré de sentimento revolto
Trouxe consigo um medo: dissabor.
Solerte elemento frustrador.
Mas o grito de um coração amante
Dizia, embora ainda distante:
“Eu canto o rebentar do amor”.

Não é sentimento leviano
Que vem mostrar sua grandeza,
Maior que a da estrela mais acesa,
E o brilho de sua luz: o quanto te amo.
E perpassando o passar dos anos,
Revendo toda a vida que vivi,
De todo o sentimento que senti,
De tudo, a certeza mais celeste,
Que medrou em meu peito inconteste:
É que para a toda a vida te escolhi.

sábado, 14 de janeiro de 2012

E o...

Um sussurro:
Um assobio,
Uma brisa,
Uma garoa,
Uma brasa.

Um trago:
Da fumaça,
Do perfume,
Do cheiro do refogado.

Um suspiro:
Uma camélia,
Um tufão,
Uma onda
Uma chama.

Um zumbido:
Do vento,
Do ar em movimento,
Da moça,
Do rádio no fundo do quarto,
Da chuva no chão.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Falta de Grandeza

“Foi de mesquinharia em mesquinharia, 
de pequena em pequena coisa, 
que finalmente as grandes coisas se formaram.” 
Michel Foucault
 
As meninas tinham de um tudo. Casa grande, cada qual com seu quarto e carro sempre do ano. O dinheiro nunca faltava e os passeios variavam entre balneários ensolarados e restaurantes da moda. Não chegava a ser uma vida luxuosa, mas era, com certeza, uma vida boa. E duas delas, pois moravam juntas sem os pais, que se aposentaram e foram morar de Cruzeiro em Cruzeiro: suíte com quarto separado, cama Queen size e varanda privativa. Na 'sala de estar' tinham até um bom sofá, decorada com restos da casa de campo! (Assim não precisavam nem de visitas, se entretinham com a população flutuante que entrava e saía do navio.)

E as irmãs assim viviam, cada qual cuidando de sua vida, mas sem cuidar muito da casa. Dentro da residência a competição era grande. Quem vai lavar a louça? Quem vai limpar a área de uso comum? As compras de mercado então eram o grande debate. Ninguém queria comprar alvejante para o lavabo da sala de estar. Contavam migalhas e vinténs apesar de serem ambas bem sucedidas e ainda ganharem mesada do avô abastado. Quem olhava de fora nada entendia.  Para quê tanta mesquinharia? Se pouco tivessem agiriam diferente? Com certeza as perguntas não eram fácil de responder.

Algumas mesquinharias mudam vidas, enquanto outras são facilmente esquecidas. Mas o acúmulo de pequenas mesquinharias é tão danoso quanto um copo de birita ao lado da cabeceira. O sujeito vai dormir embriagado e quando acorda dá aquela golada no copo de vodka aguada. E pior ainda é fumante apagando cigarro em lata de cerveja sem ao menos amassá-la para dar a impressão de usada. Vem um bêbado sedento e toma aquela coisa horrível, cheia de guimbas... Enfim. Ainda não há como saber o que pode acontecer com as irmãs, mas que a mesquinharia envenena a amizade, ah, isso já está acontecendo.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Psicodélica Relidade

Acordei cedo sem querer
Se pudesse enfrentaria uma aventura em meu próprio jardim
Montaria borboletas multicoloridas
Fugiria das gotas pesadas da mangueira
E desviaria de moscas assustadoras
Para acabar, exausta
No tapete da porta dos fundos
E toda vez que ficasse entediada
Saberia exatamente o que fazer

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Amor

Como as águas de um rio sem precisão de nascimento,
já imersas em caudaloso afeto
atravessa sem porquês;

na terceira margem vagueia
qual folhas caídas de árvore
sem precisão de quando;

desembocadura sem onde,
travessia de curso.

"Amor, enquanto durar,  
que amenize a vida".