Tarde lluviosa de gris cansado... Levanto o meu olhar.
O mar de cimento se liqüefaz na fina linha do horizonte, em fumaça fina, embaçando o cotidiano com a morosidade do corpo que saiu da cama e deixou a alma em paz. Não fossem as gaivotas cruzando o cinza em círculos infinitos, sentiria que o mundo passava no mesmo tom, aglutinando dia e noite na tarde de passagem. Um intermédio entre eu e amanhã.
Faz tempo que o Rio não se deixa entreabrir, está sempre lá, escancarado, iluminado. E agora, ofendido, se recolhe em contínuo humor, um longo bocejo de quem cansou de se esforçar por debochar - só para figurar os dentes brancos e as covas que esconde na borda da boca.
É difícil suportar por muito tempo o trânsito incessante de anacronismos embaixo de um sol que brilha para todos.
Magoou o céu o deboche do perdão. Magoou o céu a piada da loura, da gorda, do negão.
Fere o sol as fronteiras das favelas e a alienação na drogadição.
É difícil suportar por muito tempo o trânsito incessante de anacronismos embaixo de um sol que brilha para todos.
Magoou o céu o deboche do perdão. Magoou o céu a piada da loura, da gorda, do negão.
Fere o sol as fronteiras das favelas e a alienação na drogadição.
Hoje o Rio não ri. Os olhos vão baixinho sussurrando o esforço de se manter maravilhoso nas duas últimas semanas. O horizonte se perde entre mar e nuvens. Um banho de água fria nos carros e nas suas lógicas e uma umidade calorosa nos transportes coletivos. Mas tudo isso quase calado, arredio em fazer de novo o que já vinha fazendo. Foi uma lufada de consciência na corrida do próprio rabo. Levanto o meu olhar e suspiro para dentro: tarde lluviosa de gris cansado, y sigo el caminar...
Muito muito bom!!
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