Doeu.
O corpo continuou com suas dimensões e dores das repetências. Quem sofreu foi a alma. Aprisionada em um corpo conformado, não pode nem derramar uma lágrima ou curvar a coluna. Há quem fale que a chuva de ontem era o céu chorando. Os mais espiritualistas diriam que era a aprovação dos deuses de Moçambique: está certo, minha filha, ainda há o reto, a retidão do caráter se cria no fluxo das águas... "água mole em pedra dura tanto bate até que fura".
Mas a alminha, ali silenciada por todos os diálogos internos, estrangulada pela postura altiva e cega pela distância, não se fez de rogada. Atacou nas horas mais sombrias, onde todos os pecados são permitidos: nos sonhos. E sonhou por cinco horas uma saga num dia cinza.
Chorou todo o surreal da realidade - como negar o alimento da alma?
Simulou borboletas na barriga com uma roda gigante - sensação tão típica dos encontros apaixonados.
Recebeu o apoio da torcida inimiga - o ego contra-ataca!
Até que, sabendo do despertar do pesadelo, levou a relidade ao suicídio. O fatídico encontro ocorre no alto de um prédio e termina com beijos de próximo capítulo, não fosse o fim da novela.
Como qualquer pesadelo, levanta-se às cinco da manhã no susto e sente, finalmente, a dor de existir.
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