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domingo, 7 de agosto de 2011

Diário de inverno


8/02/76
Hoje tornei a ligar a televisão, mas unicamente para ver um filme. Chaplin me encanta e não pude deixar de ver “Luzes da cidade”. Sorte ser domingo, eu achar os domingos enfadonhos e querer ver televisão. Parece que estou me acostumando novamente à solidão. Tentei não reler a carta de Marta, porém a tarefa parece ser impossível. Estou pensando em ir a sua casa, aliás, seu bairro é bem perto do meu. Só fico a imaginar se não me receberia; ou pior, me receberia, me convidaria para um chá e ao adentrar sua sala me depararia com a fotografia de outro homem na estante ou em algum aparador. Nunca suportaria as fantasias que me assaltariam dia após dia tentando descobrir se ele fez seus dias tão prazerosos como eu fiz; ou se fez melhor; ou se ele era melhor que eu; ou pior, se ela achava que ele era melhor que eu. Nesses momentos é que minhas indagações sobre “o que sou” perdem o sentido. O que importa é que ela encontrou alguém que faz por ela o que eu não fiz, ou nunca faria – sim, existem coisas que eu não faria por ela. O que eu não faria? Nada me vem à cabeça. Eu sei que tem muitas coisas que não faria, só não consigo um exemplo agora.
Reparei que ao me contrapor com ele – o da foto na sala de estar –, pareço ter o mesmo pensamento que me motivou a não mais ver televisão, em outras palavras: motivação à inércia. Mas uma coisa é certa: nunca suportaria minhas fantasias sobre outro homem na vida dela. Que confissão tola! Imagine Neruda lendo meu diário, que lástima.

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