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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Rosa Vermelha

Pausa para o cigarro. "Como não há uma área para os funcionários e não é de bom tom fumar com os clientes, é melhor que você fume na esquina." Não tem problema, a entrada das casas antigas na esquina me fornece um melhor assento que o banco que uso no expediente - tenho pernas curtas! E por um mês me diverti indo naquela esquina, que era uma encruzilhada.

Despachos de todos os tipos: com carne, com farofa, com cebola, com velas, aguardente, rosas. Imaginava qual era a intenção do despachante. Amor, paixão, libertação, segurança - nossa, imaginei até que poderia ser alguma moça interessada em um morador de Botafogo.

Numa das idas até a esquina me bateu um calafrio na metade do caminho. Achei estranho, não estava ventando nem frio fazia. Nenhum sinal de febre em mim. Na volta do fumódromo, as labaredas do outro lado da rua: fizeram um despacho no canteiro para Exú: muitas velas pretas e vermelhas, cigarros, aguardente. Bonito de se ver. Levou um bom tempo para ser retirado dali.

Três dias depois, vi passar em frente à entrada do estabelecimento onde trabalho um moço saído das figuras de Debret. Negro retinto, barba branca, chapéu de palha, calça de tecido dobrada, chinelo de dedo e blusa surrada. Ele passava do meu lado da rua. De repente, ele pára, levanta o dedo para o alto e esbraveja algo que de onde eu estava não dava para ouvir. Ele parou no exato local que senti o calafrio, e do outro lado da rua estava, escondido, o despacho para Exú.

Alguns meses se passaram sem ter outros despachos. Me tirou uma certa alegria que eu tinha na minha pausa para o cigarro. Mas hoje, por algum motivo, decidi ir fumar do outro lado da rua. Nunca fiz isso. E lá estava, em um outro canteiro, dois despachos belíssimos. Um levando farinha amarela, à sua esquerda três rosas esticadas e acima delas uma garrafa de cidra - parecia mais uma montagem de pratos de restaurante: pratos, talheres e copo. O outro era o prato com farinha branca e sete rosas em cima, dispostas de forma que formavam o desenho de uma rosa.

Minha alegria voltou! Fiquei até me perguntando se um dia não poderia ser para mim.

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