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sábado, 2 de junho de 2012

O dedão



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Já meio embriagada virava para cima e para baixo a carta do estrangeiro. De tanto carregar o pedaço de papel para todo canto o mesmo já começava a romper-se no meio. Resolveu inspirar fundo, relaxar o maxilar e fitar o corpo novamente, com a carta por cima do líquido inebriante.
A carta ainda estava lá. O amor ainda estava lá. Só quem não estava lá era ele. Havia virado o patuá de cabeça para baixo e em seguida ficou tão pensativa que coçou a orelha esquerda, enquanto o pé do mesmo lado repuxava num pouco de câimbra na sola.
A esta altura os movimentos involuntários estavam quase que incontroláveis e a rapariga coçava um pouco o cabelo, o rosto, tocava o anel do polegar direito e sorria para o nada. A circulação dava sinal de problema e ela mexia o dedão sorrindo para o pé pressionado pelo seu corpo cansado.
As coxas firmes tinham marcas arroxeadas. Era muito desastrada. Saiu da posição em que estava. Tirou o foco de si mesma. Do lado de fora os bichos cantavam e ela não se sentia mais encurralada. Era o dia que chegava e assim o medo ia embora.
Sentia-se quase livre. “Nos dias de hoje, o quase é pleno.”, pensava. “Foda-se a gramática!” Sentiu um cheiro estranho e cansou-se de ter o olfato apurado. Estalou o maxilar e esfregou a sobrancelha esquerda. O ombro direito foi o seguinte. E coçou a da direita arrumando e alisando o nariz quase que ao mesmo tempo.
Olhou suas mãos. Os cantos dos dedos doíam do insistir manual, mas a cabeça estava feliz, porque era tempo de festa. Ela não queria saber de lamúrias, pois as borboletas vivem pouco e morrem livres porque dão valor ao tempo. Olhava o dedão novamente. E a câimbra corria até a batata da perna.
Tudo culpa do dedão.

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