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sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Mariposa privilegiada
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Apesar da falta

domingo, 25 de setembro de 2011
A inveja e o recalque
Se no todo a marca Rock in Rio é uma falácia no que diz respeito a um gênero musical, o que podemos falar de suas partes? Hoje (25/09) é o chamado dia do Metal, e Motorhead, Angra, Sepultura, Slipknot, Metallica irão tocar. Neste exato momento estou assistindo um ótimo show - pela televisão. Ontem também, ao que consta para muitos, tocaram boas bandas - mais uma das partes que compõem o todo.
Infelizmente o evento teve uma venda de ingressos - ao m(eu) ver - horrível; péssimas escolhas dos músicos, superfaturamento no valor, desorganização na segurança, etc. Infelizmente, eu, que afirmei isso tudo horas atrás, e também disse, sobretudo que não seria louco de ficar horas e até dia na fila para comprar o ingresso, estou profundissimamente arrependido de não estar lá, curtindo um ótimo show. Agora (!) entendo que a marca Rock in Rio é apenas uma marca (!), e que na rabugice de querermos imprimir em tudo nossa moral eucêntrica, achamos que só pode tocar o que achamos bom, ou o que é Rock. Nem as palavras são tão ditadoras assim. Mas nós somos.
Infelizmente não estou pulando, suado, sim suado, fedorento, cansado, com sede etc. no meio daquela multidão horrívelmente boa! Nunca me senti velho, até este momento...
O todo, ah o todo! Mas não são as partes que compõem o maldito todo?! E eu posso muito bem não gostar do todo, mas gosto desta parte chamada dia do metal, e outros gostam das partes: pop, pagode, axé... Tem dia para qualquer parte de gosto, mas não para o todo!
A inveja mata, o recalque não...Por pouco!
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Equação das invejas e dos pavões
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Anáguas, rendas e penduricalhos

Hoje, ao olhar para trás, dificilmente lembrava-se desses momentos. Contas a pagar, projetos e decepções amorosas povoavam seus pensamentos, enterrando os que realmente faziam algum sentido. Aqueles que construíram sua personalidade e fizeram dela a pessoa doce e de coração grande que era hoje. Quando se pegou no meio da narrativa, seus olhos encheram-se de lágrimas. Era, sim, uma pessoa feliz. Muito feliz. E com a vida cheia de esperança novamente, resolveu que a partir de então faria um duelo com cada pensamento inconveniente que viesse saltar em sua cabeça: boas lembranças remotas e recentes desafiariam a tristeza até a morte.
sábado, 17 de setembro de 2011
Seu peru tá assando...
O maridão, o maior abandonado, esquecia frequentemente as contas do fim de mês e jogava na loteria. Se tirasse a sorte grande provavelmente desapareceria deixando para trás aquele compromisso firmado há tanto: o que deus uniu o homem não separa. Êta época boa. Ana Lúcia nem tempo tinha de arrumar a cama para ir trabalhar na sua burocracia.
E as crianças, que nem mais eram tão crianças assim. Tudo continuava o mesmo: pagava-se suas despesas, comprava suas roupas íntimas mas intimidade com o pai e mãe - não! A raiva que dava em Ana Lúcia quando ouvia a chegada do natal pela Leader Magazine lhe provocava arrepios: querem meus presentes, não minha presença.
Havia decidido de antemão: Comemoraria o natal fora de época. Será que a família seria capaz de compreender aquele espírito em outras datas do ano? Dar valor ao peru fatiado, à sangria cheia de maçã, ao pavê de sobremesa? Ou passariam desapercebidos, até notarem a diminuta árvore no canto da casa e a trilha sonora natalina tocada por cavaquinhos? Vamos pedir a deus para unir sem que seja em eventos!
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Superexposição ou Emoção?

A onda vai
O vento vem
E o que mais queremos
Ninguém tem
Satisfação
É...
Quem vê Facebook
Não vê coração
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
O Deus submerso
Por volta dos vinte a expressão "graças a Deus" e outros dilemas não eram mais problemas, e até chegara a desprezar e qualificar as pessoas religiosas - não importasse a religião - como inferiores. Monumentais teorias ecoavam da boca de Mateus, de nome bíblico, acerca da não existencia de Deus. Muitas delas ele nem compreendia, mas se regozijava em repetir pois sentia um certo ar intelectual ao proferi-las.
Aos quaresta e cinco, agora que começava a entender algumas das teorias sobre o ateísmo, dizia que não poderia afirmar que não acreditava, e também não poderia afirmar que acreditava em Deus, enfim, ficava em cima do muro. Debatia com mais cautela, e o fígado começava a apresentar alguns sinais estranhos, porém familiares. O desamparo e a existência já tinham cadeira cativa em sua razão.
Setenta e sete anos, Mateus, de nome bíblico, observava o bisneto Pedro, também de nome bíblico, em seu colo sentado enquanto pronunciava "fofô". Com olhos marejados, por um instante pensou que Deus poderia existir, em algum lugar e não necessariamente no céu. "É uma dádiva, é uma dádiva!" exclamava para si recobrindo a soberba de cinquenta anos atrás.
No leito de morte, oitenta e seis anos, Mateus, quase sem nome, sem corpo - sem fé? Quando seu bisneto Pedro, o de nome bíblico, aos doze anos e pensativo sobre o desamparo e a existência, entrou para dar, sem saber, adeus ao avó, chocou-se com cena. Mateus balbuciara com a voz rouca algo inaudível para Pedro, e este entendeu que era para se aproximar. Não ouveram úlitmas palavras, mas apenas um gesto, quando por fim, o fígado parou de apurrinhar: entre sua mão e a do bisneto, jazia comprimida uma pequena medalha de ouro com a foto de Jesus menino atrelada a uma fina corrente. Segundo a familia o cordão fora obtido no batizado do bisavó, quando ele contava os seis meses de idade e não pensava em nada.
Pedro, de nome bíblico, era ateu, mas carregava no peito uma medalha de Jesus menino quando me contou essa história.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Holofote
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Jogos Mentais (ou A Culpa é da Tramontina)

A falta de liberdade homossexual trazia certa amargura. E pro seu infortúnio, estava completamente apaixonada pela colega de trabalho mais velha, que de complexada não tinha nada, e ainda era um furacão na cama. Não sabia se assumia sua preferência ou comprava um jogo de panelas novo. O velho dilema.
No meio da confusão se envolveu com um sujeito macho. Muito mais pelo seu olhar doce do que pelo membro intumescido que a penetraria durante o relacionamento. Sensível, ele acabou se apaixonando e a moça – apesar de ter descoberto o sexo hetero com o rapaz – tinha certeza que preferia os beijos doces e o roçar macio das meninas.
Quando saía dos braços apaixonantes da mulher amada, sentia um misto de culpa e insatisfação social, que a levava a procurar o abraço mais forte. Só que imediatamente se arrependia e agia de forma estranha, pro desespero do rapaz enamorado. Ele, por outro lado, investia calado (esperto!), torcendo pra que ela lhe desse uma chance de mostrar que podia amar e ser amada sem complexos.
Até que ela escolheu assumir o namoro com o mancebo, sofrendo calada as saudades crescentes da amante preterida. O tempo passou e o rapaz recebeu uma oportunidade de emprego em Nova Iorque. Mudou-se com ele de mala e cuia pra viver o sonho americano, com casa, carro e dinheiro no bolso.
Foram felizes por um tempo e o casamento chegou ao fim juntamente com a mudança de volta à Pátria Amada. O tesão deu lugar à mesmice e não havia espaço pra amizade. Não tinham nada em comum. Nada. Voltou ao Brasil pra a vida de outrora: casa da avó com a mãe e suas neuroses. A falta de objetivo a empurrou pra a boemia. Tentava afogar nos copos a preferência por mulheres, o casamento fracassado e a dependência da família.
Não demorou muito e a insatisfação voltou contra o próprio corpo. Se achava gorda, além de inútil, e foi um pulo pra se enfiar em anfetaminas. Passava um pouco dos 30, mas tinha cara de menina, a pele aveludada e olhos amendoados. Logo arrumou outro namorado.
Moço rico, de família nobre da Zona Sul do Rio de Janeiro. Herdeiro e disposto a ter mulher e filhos pra acobertar suas orgias homéricas nos inferninhos de Copacabana. Só que a morena de olhos amendoados também gostava de uma festa e não demorou muito pra cair na esbórnia com o pretendente e seus amigos.
Ele a convencia facilmente a ficar em casa: jantares sedutores, jóias caras e muita birita de qualidade mantinham a jovem de boca calada. Somando-se parcelas generosas de seu coquetel de bolinhas pra segurar o apetite e uma boa série de TV americana e a noite estava garantida. O herdeiro deixava a mocinha em casa e partia pra bagunça.
Apesar de contrariada ela aceitava tudo de boca fechada: estava satisfeita com sua vida de aspirante a dondoca. Ele reforçava os mimos toda vez que exagerava na dose: mais presentes, mais jantares. E até presenteava a família dela, pra que a moça não reclamasse do pouco contato que nutriam. O tempo passou e juntaram os trapos, festas, jantares, jóias, orgias e bolinhas.
Na ilusão individual de cada um, tudo daria certo. Ela teria um marido companheiro e ele uma esposa submissa. Foi quando ao final do terceiro mês a surpresa aconteceu. Sonhando com a tal mulherzinha dedicada, o maridinho chegou em casa com um pequeno enxoval, adquirido em uma aposta que ganhara no páreo da noite: talheres, jogo de chá e panelas.
Os olhos amendoados não gostaram nada do que estavam vendo. Como é que pode ele se meter num assunto tão específico? Ela queria decorar e comprar as coisas da casa! E queria panelas Tramontina! A vida inteira sempre soube que eram as melhores! A discussão começou branda e foi ficando feia, a ponto de voarem talheres pelo apartamento recém montado.
O sonho dourado desmoronava subitamente e não havia amor que salvasse o casal da maldição das panelas.
domingo, 4 de setembro de 2011
Antes que seja tarde
de solo pedregoso, com escassa
e mirrada vegetação,
num espaço acuado
entre a Mata e o Sertão;
semi-árido é seu ar,
e temeroso (e desejoso)
de um mar,
que o inunde de amar
antes de seu anoitecer,
e termine por grimpar,
a espuma sobre o mar,
e o nada sobre o ser.