Em um ano de tantas querelas familiares, Ana Lúcia queria mais um motivo para a convivência com o marido e os filhos. No trabalho tudo ia meio capenga... sempre foi, só que agora existia a obviedade de uma greve que fazia com que tudo funcionasse na mesma lentidão de antes só que com uma faixa em letras vermelhas garrafais "GREVE".
O maridão, o maior abandonado, esquecia frequentemente as contas do fim de mês e jogava na loteria. Se tirasse a sorte grande provavelmente desapareceria deixando para trás aquele compromisso firmado há tanto: o que deus uniu o homem não separa. Êta época boa. Ana Lúcia nem tempo tinha de arrumar a cama para ir trabalhar na sua burocracia.
E as crianças, que nem mais eram tão crianças assim. Tudo continuava o mesmo: pagava-se suas despesas, comprava suas roupas íntimas mas intimidade com o pai e mãe - não! A raiva que dava em Ana Lúcia quando ouvia a chegada do natal pela Leader Magazine lhe provocava arrepios: querem meus presentes, não minha presença.
Havia decidido de antemão: Comemoraria o natal fora de época. Será que a família seria capaz de compreender aquele espírito em outras datas do ano? Dar valor ao peru fatiado, à sangria cheia de maçã, ao pavê de sobremesa? Ou passariam desapercebidos, até notarem a diminuta árvore no canto da casa e a trilha sonora natalina tocada por cavaquinhos? Vamos pedir a deus para unir sem que seja em eventos!
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