"Vestiu rosa - dia de férias. Costuma se vestir de todas as cores, menos rosa - ainda mais naquele tom. E o soutien nem se fala. Foi sem ele. Melhor que queimá-lo - vai saber quando pode precisar desse support?"
O feminino se define por saias, calcinhas, cores, gestos... e ainda, infelizmente, por posições de subserviência ao macho. Ou seja, temos aqui, neste parágrafo, dois femininos: um, o do construído de acordo com a cultura - e o que se faz com esse feminino que está na sociedade - o outro, construído de acordo com um "outro", que reclama, que nomeia - aqui é feito de opostos: calça-saia; unha feita-unha roída; cabelo de laquê-cabelo de gel; mãos contidas-mãos ao ar.
"Foi até o bar e pediu uma cerveja. Dois copos? Não, um só... estou matando o tempo."
E todas as regras da sociedade nos levam a uma interpretação. Mulher que sai só - PIRANHA!. Mulher que rói as unhas - DESLEIXADA!. Mulher que usa calça - SEM JEITO!. Mulher, mulher, mulher. Dá pra ver a união das letras e sentir que as letras em conjunto quando são pronunciadas não querem dizer nada?
"O garçom já saiu fazendo piadinhas, comentando a facilidade daquela saia embriagada. E a situação vai ser tão certa e tão embaraçosa para aquela mulher que não haverá problema nenhum com a esposa - ela não vai saber."
Sabe por quê depois disso não diz nada? Porque quando colocamos a mulher em um lugar, colocamos em uma função social: a esposa, a mãe... etc. Ao falar mulher ainda não temos a mesma abstração de Homem. A criadora do homem é também chamada de Homem. E o continuamos vivendo essa divisão de forma desrespeitosa e nesse caso a diferença é para calar o outro.
"Na volta do banheiro, o paredão: 3 homens impediam o caminho."
Porque respeito é pelo ser humano. É abolir a razão para entender o outro. Sentir na sua pele, sem nenhuma conexão lógica o que é ser aquela pessoa, o que é passar por aquilo. A tal da consciência amplificada - nome dado por Dostoiévski em Notas de um Subsolo - fala disso. Da desumanização pela razão: achamos que sabemos tudo que acontece no interior dos outros, que sabemos o que o outro sente, o que outro vai falar, o que quer dizer e como esse outro vai agir. Mas nunca seremos o outro. Até estarmos na sua condição - aí já é karma, dharma, como quiser chamar. Só então saberemos a dimensão daquilo que indiferentemente passou pela lógica da nossa razão.
"Não adiantou fazer piada, pedir licença. Nada aconteceu, mas teve que levar para casa o porquê saiu sozinha deste jeito. E levou também aquela sensação de que podia ser pior: por um segundo, o horror era viável, possível e pensado."
"Não adiantou fazer piada, pedir licença. Nada aconteceu, mas teve que levar para casa o porquê saiu sozinha deste jeito. E levou também aquela sensação de que podia ser pior: por um segundo, o horror era viável, possível e pensado."
Nada contra a saia rosa, mas vista uma e siga seu caminho até o trabalho e entenda o que isso significa. Só aí poderemos falar em igualdade.
12/05/2011
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