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terça-feira, 5 de julho de 2011

Um caixão só para a cabeça

Não sei mesmo explicar. Minha cabeça já está tão cheia de coisas que não sei por qual razão me vem essa lembrança de repente: simplesmente acordei com ela na cabeça. Tinha uns 12 anos e não era das mais populares da escola, mas me destacava pela inteligência, pelo sorriso largo e a carinha bonita. Penso que estar acima da média da classe social de meus colegas também ajudou. Minha mochila era bacana e meus pais tinham carro, coisa rara para aquela escola de baixa renda.

Ainda pouco atraente, tinha as pernas finas. E para completar o nome também deu origem a uma rima de criança maldosa, que vive na memória até hoje: “Ana Beatriz Baeta, perna fina e bunda seca.” Era o que diziam na hora da implicância. A primeira vez que ouvi foi dolorida e não parei mais de prestar atenção em minhas pernas, que sabe-se lá por que hoje são fortes e delineadas.

Apesar do medo e de saber que era errado, passava cola com segurança. E até me permiti colar algumas (poucas) vezes. Me sentia uma garota normal, embora preferisse fazer tudo certo. Era tão boa aluna e tão certinha que fui apelidada de “CDF”. Isso mesmo: cú de ferro. E ganhei um daqueles diplomas que vendiam prontos em papelaria com direito à cerimônia e tudo para outorga. A turma grande, de cerca de 50 alunos, toda me olhando. E eu, tímida, roxa de vergonha na frente do quadro negro, recebia a homenagem chorando. Era muito carinho numa brincadeira só.

Eu devia ser mesmo uma figura, digamos, interessante, porque também fui escolhida representante de turma hors-concours. Título que declinei de pronto, devido a danada da timidez. A turma inteira gritando no intervalo para que eu me candidatasse e eu morta de vergonha. Quando isso acontecia, ficava com as orelhas vermelhas. Característica que ainda me acompanha. E quente, muito quente. Não dá para disfarçar.

Demorei a desenvolver seios e quando finalmente começaram a aparecer, eu colocava uma blusa de malha por baixo da camisa do uniforme escolar. E depois, com eles já maiores, usava um top ao invés de sutiã, para não marcar muito. Ainda não sabia como lidar com as formas femininas. Com vergonha da falta de bunda, só usei saia por dois anos, mesmo no inverno (a calça do uniforme marcava demais). E acompanhada de uma meia bem afofada nas canelas, pois achava que disfarçava a finura delas.

Quando tomei coragem de usar calças fui chamada ao quadro negro – quadro branco, naquela época, só no laboratório de informática. E, de repente, ouvi um bochicho dos meninos da primeira fila. Fiquei intrigada com aquilo e tudo me passava pela cabeça: estaria com um furo na retaguarda? Menstruada? Estariam eles zombando da minha ausência de bunda? A tormenta foi tanta que suava frio. Terminei logo de escrever a resposta e fui diretamente ao banheiro olhar o que estava acontecendo. Mas não tinha nada de errado: o meu bumbum pequeno estava perfeitamente no lugar dentro da calça de helanca. E foi quando resolvi que estava na hora de dar o meu primeiro beijo.

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