Cláudia acabara de obter o doutorado em literatura quando conheceu Fernando, que pela terceira vez tentava ingressar no mestrado, também em literatura. Foi na comemoração do novo título da promissora doutora que ocorreu o primeiro encontro, e o fato de terem um amigo de um amigo em comum selava a coincidência; ela comemorava, enquanto ele afogava a decepção de mais uma reprovação. Cláudia o achou engraçado, embora nunca pudesse acreditar que a paixão por uma pessoa como Fernando fosse capaz de aflorar em si. Ele não era o tipo de homem que lhe agradava: um pouco baixo, pele morena e barriga saliente; contudo, o ar decidido e confiante que envolvia suas palavras foram os olhos verdes que não ele tinha para chamar sua atenção. “Não Claudinha, como pode você achar que é uma questão tão simples” e continuava por quase meia hora demonstrando a ela o que estava ‘errado’ em seu raciocínio. Ela, por sua vez, prestava a atenção em cada palavra, em cada fonema, e uma espécie de hipnose sustentada pela cadência formada frase após frase a prendia: a começar pelos ouvidos, passando aos olhos, e por fim tomando todo seu corpo. Terminada a festa, ele pediu seu telefone, ela, queria seu email. Combinaram de sair algumas vezes, e a hipnose, com o tempo ganhou outro nome: admiração.
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