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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

As histórias fantásticas de Seu Lunga



Seu Lunga, humilde pescador, fama corria por toda Carió, repousada no interior do interior de um desses Brasis. Resposta para tudo tinha, e não bastasse ser do ofício dito de histórias falseadas – para não falar estórias, já que não existe mais em nossa prosa oficial –, capturador de peixes: “sereia de rio, difícir demais, peguei uma vez”, Seu Lunga amiúde espremia um caldo forte e substancioso de sua casca espessa, que fazia de recuar até coronel, e de aproximar era gente muita, das outras que beber queriam.

“Esses cabras parecem mais é bichu di luz, córri córri involta di lâmpida, isso quando modo de num batê e cair no chão pra logo avoar pro mêmo lugar; e pior, isso é o que mais acontece.” E os meninos que na entrada estavam da vendinha, responsáveis foram pelo furdunço que se instalou em Carió: tudo por pingado ter em seus ouvidos o famoso caldo de Seu Lunga. 

Era um tal de “pai, pai, mãe, mãe, o que Seu Lunga quis dizê chamano os cabra de bichu di luz? Eu sou bichu di luz tamém?”. Creditem! Tudo causa de três calanguinhos e seus pais, pais, e mães, mães que pra Seu Lunga correram logo pra modo de explicar a tal frase. “Má nem eu me alembro que falei isso homi!” ele dizia. Cansado fiquei de o pescador tanto isso repetir pros que vinham em muitos – os muitos considerando Carió: que dúvida qualquer aparecia, iam ter com ele para a sabedoria sua apaziguar. Desta só vez, que ele cansou e dia irritado lançou “Ué falei: bichu di luz faz o quê?...” E amontoados todos perguntaram: “o que Seu Lunga? Diz!”. 

Analfabeto, num mentia se perguntado fosse: “nem escrever Seu Lunga?” e os poucos dentes mostrava dizendo “nem meu nome homi!”. Brilhante dos pescadores era o mais, mas digo, ouvi é que não ouvi ele responder sobre os bichos de luz. Acabei por entender (?) por mim só, Seu Lunga era a lâmpida. Alumiei depois só de voltar pra Curió, e a ele visitando vi pessoas aos muitos ainda perguntando sobre os bichos de luz e os cabras relacionado. “Digo depois só de acabar findando” tremida a voz soltava diante do apelo. Ninguém satisfeito estava, mas a morte dada ao pescador bem próxima, desistiram por aquele dia. 

Semana se passava, e ele minguava. Decidi ao seu ouvido ir e “Ocê é a lâmpida!” tencionei. Tremi me tremi ele falando: “não fío”. “O que é então homi?” me assemelhando os outros disse... Que morte bonita teve ele. Como gente tinha! Olhando todos estavam prô velho pescador. Começou uma história – em Curió não há estória, e não é da gramática culpa –, era de uma pesca recente sua, então os braços levantou, arqueou um deles como se tivesse puxando uma linha de anzol e arrastou a fala: “sabe, antionti quando puxei o anzol lá no riozin: outra sereia, creditem! Duas numa vida é sorte muita”, e um dos meninos que perto da cabeça de Seu Lunga restava assegurou: “eu vi! A sereia si debatia demais demais, forte muito era”. 

 Seu Lunga que se ria fraquinho, entregou então modo um gesto, a vara de pescar imaginada da história contada pro calanguinho. Com prantos nos olhos e cutucando levemente com uma das mãos o semi-morto braço e a outra cuidadosamente segurando a vara de pescar, dizia o franzino: “Seu Lunga... Seu Lunga... Fala como nós sabe trazê e recuar os bichu di luz”.

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