Seu Lunga, humilde pescador, fama corria por toda Carió, repousada no interior do interior de um desses Brasis. Resposta para tudo tinha, e não bastasse ser do ofício dito de histórias falseadas – para não falar estórias, já que não existe mais em nossa prosa oficial –, capturador de peixes: “sereia de rio, difícir demais, peguei uma vez”, Seu Lunga amiúde espremia um caldo forte e substancioso de sua casca espessa, que fazia de recuar até coronel, e de aproximar era gente muita, das outras que beber queriam.
“Esses cabras parecem mais é bichu di luz, córri córri involta di lâmpida, isso quando modo de num batê e cair no chão pra logo avoar pro mêmo lugar; e pior, isso é o que mais acontece.” E os meninos que na entrada estavam da vendinha, responsáveis foram pelo furdunço que se instalou em Carió: tudo por pingado ter em seus ouvidos o famoso caldo de Seu Lunga.
Era um tal de “pai, pai, mãe, mãe, o que Seu Lunga quis dizê chamano os cabra de bichu di luz? Eu sou bichu di luz tamém?”. Creditem! Tudo causa de três calanguinhos e seus pais, pais, e mães, mães que pra Seu Lunga correram logo pra modo de explicar a tal frase. “Má nem eu me alembro que falei isso homi!” ele dizia. Cansado fiquei de o pescador tanto isso repetir pros que vinham em muitos – os muitos considerando Carió: que dúvida qualquer aparecia, iam ter com ele para a sabedoria sua apaziguar. Desta só vez, que ele cansou e dia irritado lançou “Ué falei: bichu di luz faz o quê?...” E amontoados todos perguntaram: “o que Seu Lunga? Diz!”.
Analfabeto, num mentia se perguntado fosse: “nem escrever Seu Lunga?” e os poucos dentes mostrava dizendo “nem meu nome homi!”. Brilhante dos pescadores era o mais, mas digo, ouvi é que não ouvi ele responder sobre os bichos de luz. Acabei por entender (?) por mim só, Seu Lunga era a lâmpida. Alumiei depois só de voltar pra Curió, e a ele visitando vi pessoas aos muitos ainda perguntando sobre os bichos de luz e os cabras relacionado. “Digo depois só de acabar findando” tremida a voz soltava diante do apelo. Ninguém satisfeito estava, mas a morte dada ao pescador bem próxima, desistiram por aquele dia.
Semana se passava, e ele minguava. Decidi ao seu ouvido ir e “Ocê é a lâmpida!” tencionei. Tremi me tremi ele falando: “não fío”. “O que é então homi?” me assemelhando os outros disse... Que morte bonita teve ele. Como gente tinha! Olhando todos estavam prô velho pescador. Começou uma história – em Curió não há estória, e não é da gramática culpa –, era de uma pesca recente sua, então os braços levantou, arqueou um deles como se tivesse puxando uma linha de anzol e arrastou a fala: “sabe, antionti quando puxei o anzol lá no riozin: outra sereia, creditem! Duas numa vida é sorte muita”, e um dos meninos que perto da cabeça de Seu Lunga restava assegurou: “eu vi! A sereia si debatia demais demais, forte muito era”.
Seu Lunga que se ria fraquinho, entregou então modo um gesto, a vara de pescar imaginada da história contada pro calanguinho. Com prantos nos olhos e cutucando levemente com uma das mãos o semi-morto braço e a outra cuidadosamente segurando a vara de pescar, dizia o franzino: “Seu Lunga... Seu Lunga... Fala como nós sabe trazê e recuar os bichu di luz”.
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