Quente. Muito quente e abafado. O ar fica tão denso que nem se escuta os vizinhos, só o vazio passando de orelha a orelha. A visão nada foca. O corpo lateja de tão quente e cada dobra sua força a mudar a posição. Não, não está tão quente para ligar o ar-condicionado. Aí mesmo que me isolaria a ponto de nem ouvir a possibilidade de um vento.
É nesses momentos que faz falta uma trovoada e a chuva torrencial que dura segundos, o suficiente pro asfalto ter cheiro. Tão inesperada que acorda as pessoas para fecharem as janelas, abaixarem as persianas. Quem sabe um refúgio na marquise mais próxima, ou se sentir por alguns instantes embriagada debaixo das gotas. Seria tanta água em tão pouco tempo que animaria a vida a sair da toca.
E que lua se pode ter num momento desse? O céu longe, escondido em camadas e camadas de calor que ainda não precipitou. Uma janela batendo é um bom indício. Impressão minha, alguém se isolou no ar-condicionado e me deixou com sua goteira.
Podia me refugiar nos noticiários, ou continuar fazendo o que estava fazendo e que não sei porque motivo eu parei. Com certeza eu já estava p a r a d a. Ai que nada! Só posso reclamar dele quando não tenho nada para comentar. Nem comigo mesmo. Posso inventar a quarta chuva do dia, mas seria só minha. Nem uma paranóia para alimentar. O jeito é acender um cigarro e voltar a fazer o que estava fazendo.
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