Cansada de ser como toda crosta de árvore poluída, eis que aparece uma última sobrevivente: a mariposa branca. Com todos os seus defeitos, todos os seus parasitismos, ela tem suas preferências - o musgo que cresce na sombra do caule.
A heroína de hoje é Mari. E Mari posa na sua árvore todo dia de sol. Só para experimentar a sombra das poucas folhas que deixam passar alguns raios de luz, e que expõem o que tem de bom e o que tem de ruim. De bom, ficamos com o presente, a compaixão do olhar. De ruim, ficamos com o passado, o fardo social.
Temos que falar um pouco mais desse fardo. Não foi Mari quem escolheu nascer onde nasceu, ser quem é aos olhos do mundo. Foram as escolhas de seus pais: da forma como seu corpo se desenvolveria - comida, exercício, disciplina - até os lugares que frequentaria - possibilidades do dinheiro, bairro, moradia. Para Mari, ficou fácil fácil acreditar no inevitável, não podemos confundir com destino. Seria desatino com seu livre-arbítrio.
Como falar de livre-arbítrio se seu corpo a trai: quando quer emagrecer, vem a vontade do chocolate; quando quer acordar cedo, vem a insônia. É sua mente brincando de dialética. Testando sua testa calejada pelos tombos da infância: ela tem dois calos, parecem até chifres de diabo. E como toda Eva, se une à serpente e oferece a maçã.
Mari poderia ser sim uma mariposa marrom, mas não é. Acidentes que nos remetem à explicações do tipo... Mas o musgo é mais saboroso - na dialética. Este sim é da natureza - da sua mente. Da cor branca da pureza - do fardo social. Que deveríamos lembrar a todos quando se tornam extremamente calculistas - da compaixão do olhar. Do branco que é ausência e é totalidade, é falta e é excesso - é passado e futuro. É indizível - é presente. Tal como o ovo de Clarice Lispector. Se o branco for branco, se esgota o assunto. E a vida? Continua com suas explicações...
Gostei em demasia!
ResponderExcluir