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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Ressentimento


 “Quem sabe não é ela?” Pensa ele ao ouvir as batidas na porta. Levanta-se da cadeira ainda um pouco confuso com as coisas que foram ditas. Abre a porta de forma sutil para que não espantasse seu orgulho e nem deixasse escapar o ressentimento alheio. Ele a vê, mas não a encara. A frase simplesmente saiu de sua boca. “O que houve?” A pergunta era inevitável, embora soasse diferente. Era até possível que se alguém mais estivesse lá, poderia dizer: “eu ouvi a pergunta com todas as letras e esta era: que bom que voltou”. E ainda assim, ninguém ousaria em dizer o contrário.
Do outro lado da porta, o corpo totalmente encharcado da chuva, o rosto pálido, a boca trêmula, os olhos marejados, e mesmo que marejados, não deixaram cair uma só gota, daquilo que ele chamara de ressentimento. “Não houve nada” ela respondeu sem hesitar. Mas em verdade quisera dizer: “TUDO! FILHO DA PUTA!” e continuou “Só vim buscar o que ficou... Todas as minhas coisas”.  Então responde ele com a firmeza das lágrimas que ela mantinha nos olhos: “Mas nada ficou”.
Ela estava imóvel, com os músculos totalmente contraídos do frio que a chicoteava por trás, misturado à raiva que sentia da resposta que lhe fora dada, enquanto uma palavra lhe atravessa a mente em todas as direções: “nada, nada, nada, nada”. Quando se deu conta já tinha saído com o peso de chumbo das palavras molhadas para chorar em outros ombros.
Ele ficara como se tivesse acordado ao meio dia; ao olhar o céu via estrelas apagadas, e ao ver o sol no lugar da lua, pensara estar dormindo. Mesmo assim, meio acordado e meio dormindo, sem saber, teve medo. Não tinha medo de não saber se estava desperto ou em sonhos, pensava que isso nunca tivera sentido, uma vez que o sofrimento era naquele instante; eterno instante. Assim o medo estava no céu - a lua se ausentara. Não eram férias curtas, tampouco infinitas, mas ninguém duvidaria que fossem ser duradouras. Contudo se regozijava da maneira sóbria como tinha agido na noite anterior, pensamento que alternava ora de ocupação ora de preocupação (...)

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