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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Seria Deus um piadista?

Juntos criaram seis filhos. O marido era divertido e a casa, confortável. A aposentadoria forçada antes dos 60 anos não chegava a ser um problema: estava realmente cansada. No entanto, quando pensava nas viagens que costumava fazer e nos bons restaurantes que frequentava ficava com preguiça do dinheiro não estar sobrando. Tudo o que queria era uma chance para provar que dinheiro não traz felicidade. Quem inventou isso era um grande piadista, pensava. Assim como provavelmente Deus também deve ter, entre outras habilidades, a de fazer comédia.

Novela nunca foi seu passatempo predileto. E sentar-se na frente da TV por horas a deixava prostrada. Queria viver e não absorver vidas inventadas. De vez em quando encontrava os antigos amigos do trabalho em grandes almoços de domingo. Na maioria das vezes todos derrubavam garrafas de vinho ao som de muita fofoca. Também não queria mais fofocar. Queria viver e não discorrer sobre a vida alheia. Buscava no fundo do peito algo para lhe tirar da inércia, mas nada encontrava.

Os filhos, todos homens, tinham pena da mãe. Tinha tanta vitalidade que vê-la naquele marasmo cortava o coração. Nem os netos preenchiam aquele vazio que ela sentia. Não que ela não se alegrasse com eles, pelo contrário. Naquela altura eram realmente a única coisa que arrancavam risadas de seu humor oscilante. Quando não estava com os netos sua única companhia eram seus fantasmas. E a cada dia eles aumentavam mais: o tempo perdido jamais seria recuperado.

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